Dilma Rousseff é a nossa…?
Engraçado como a briga "presidente x presidenta" se politizou.
Ano passado, ainda no meio da campanha eleitoral e quando nada se falava sobre esse assunto, cheguei a tuitar dizendo que, gramaticalmente, são ambas consideradas corretas.
Mas como Dilma adotou a forma “presidenta”, provavelmente com o intuito (político) de reforçar a conquista de uma mulher, usar essa forma agora soa como fazer uma concessão a ela e a seu partido.
Por isso, alguns comentaristas não respiraram duas vezes para elaborarem justificativas condenando o feminino presidencial. Pois, quanto mais gente imitasse a escolha da petista, maior pareceria ser o apoio a todo o seu governo.
As explicações vão do técnico ao picaresco. Basicamente, funda-se em comparar “presidente” com outras palavras de origem latina equivalente, como “gerente”, “adolescente” ou “parente”.
O artifício zombeteiro é dar o passo de transformar essas palavras, falando sobre “gerentas” e “adolescentas”. O objetivo retórico é apelar para um senso de ridículo do ouvinte: se “adolescenta” é absurdo, “presidenta” também deve ser.
O caso é que o idioma e sua gramática não funcionam assim. Um idioma não tem uma Constituição votada por autoridades, nem um inventor, nem um deus irrepreensível, nem um papa infalível. Ela é feita de usos. Não fosse assim (também apelando ao reductio ad absurdum), deveríamos estar todos falando latim. O português, flor ou não, é uma deturpação da língua de Cícero, que, ressuscitado hoje, consideraria a todos nós ignorantes bárbaros pelo nosso linguajar.
Pois o uso admite a possibilidade desse feminino. Veja “parenta”, por exemplo, que tem registro de uso no século XV (Houaiss) e até no século XIII (Antonio Geraldo da Cunha)! Veja “governanta”, que entrou no português por influência da língua francesa, mas que, na forma, é mais um exemplo.
O próprio termo “presidenta” é oferecido pelo Houaiss e pelo Aurélio desde muito antes de termos uma candidata ao cargo, e também o novo Volp já o havia incorporado na ocasião da recente reforma ortográfica.
Mas agora é tarde: o uso se politizou — o que também é algo natural na evolução da língua. Quem quiser agradar Dilma Rousseff a chamará de “presidenta”. Quem quiser evitar ser tomado como petista, usará “a presidente”. Pela gramática, os dois estão certos. Mas os exaltados estão errados quando tentam ridicularizar a parte contrária.
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