terça-feira, 29 de janeiro de 2013

E também se põe

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Gostaria de fazer aqui algumas observações sobre o livro O sol também se levanta, de Ernest Hemingway (foto), que acabei de ler.

Meu primeiro comentário é que a tradução de Berenice Xavier, feita há muitas décadas e que tem se perpetuado em todas as edições, é um tanto defeituosa. Isso me deixou bastante afastado do livro, uma vez que eu tropeçava o tempo todo em frases estranhas que estavam obviamente mal traduzidas.

Além disso, o livro não é realizado num estilo que realmente me agrade. É algo pessoal, sem dúvida, mas gosto quando um autor explora a capacidade do romance para expor reflexões ou imaginações. Este romance de Hemingway aproxima-se mais do ideal de um bom roteiro de cinema, com sua visualidade marcante, seu excesso de diálogos e situações bem mais diretas.

Para completar, os aspectos temáticos não me cativam. Nem os mais profundos – “geração perdida”, a desilusão no mundo entreguerras, etc - nem os mais evidentes, que se proliferam na primeira metade e culminam na fiesta em Pamplona.

A interessante mistura de personagens, com seus dramas pessoais, foi o que me fez manter a leitura até o final.

Entendo que este livro seja um clássico e tenha especial significado para a cultura americana, e certamente também agradará muitos de nossos leitores. Nesse caso recomendo, se possível, tentar ler no original em inglês. Para mim foi uma leitura talvez intelectualmente proveitosa, mas emocionalmente fria.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tempo e memória


Quando pequeno, surpreendiam-me os relatos de pais e tios mais velhos sobre um mundo sem televisão e produtos industrializados. Era na minha percepção um mundo em sépia, lento, esquisito e profundamente remoto: “trinta anos atrás” tinha uma semelhança curiosa com “há um milhão de anos”.

Hoje a molecada não entende o que é um vinil e imagina nossa irrestrita infelicidade por termos crescido sem celular e internet. Mas não é o que sentimos. Nossa adolescência também era movimentada e intrigante, vivíamos no tempo mais moderno que já havia existido.

O engraçado de nossas lembranças é que elas não são desbotadas ou em preto e branco como as fotografias que guardamos das mesmas épocas. Podem ser confusas, curtas, quase esquecidas, mas mesmo aquela única imagem distante ainda preservada na memória nós a enxergamos com o mesmo brilho que os fatos presentes nos dão neste exato segundo.

Assim, temos certeza de que “há trinta anos” faz só um instante. Aquela bolinha de gude que acertei com força no grandão malvado da minha rua voou agora há pouco, eu já era formado, casado e órfão de pai.

Envelhecemos por acúmulo de experiência e tudo aquilo que vivemos se sedimenta no Homem, que em seu presente constante tenta, com todo o otimismo necessário para a existência, agregar à sua vida também aquela carga de sonhos, imagens do futuro que ele tem a expectativa de fazer entrar para seu depósito de recordações.