quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O mito do público-alvo na TV

Estava pensando...

Quem quer ver programas adultos? Os ávidos adolescentes.

Quem quer ver programas adolescentes? As precoces crianças.

E os programas infantis? Esses são vistos pelos adultos, saboreando o conteúdo "educativo" — que as crianças desprezam.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Para compreendê-las melhor, as pobres estatísticas

Uns endeusam as estatísticas, outras as acusam de pura mentira. Como de hábito, os extremos estão errados (falou o extremista do meio-termo).

Sou fã de estatísticas, ao contrário de 93,7% das pessoas. Mas elas não são, nunca, a expressão nítida da verdade. Elas precisam de interpretação, como as profecias de anteontem, a borra de café para os crédulos, as linhas da vida na palma da mão.

A vantagem da estatística sobre os suportes esotéricos é que ela se baseia num levantamento factual exaustivo. Seu pior difamador admitirá que os números que ela mostra são “verdadeiros”, mas colocará tantas aspas nesse “verdadeiros” que concluirá que a estatística não serve para nada, “escondendo verdades maiores” — afirmação à qual eu mesmo acrescento algumas aspas.

Um estatístico que caçava patos atirou um metro para cima da ave na qual mirava, ao mesmo tempo em que seu colega atingia um metro abaixo desse alvo, o que os fez imediatamente sorrirem contentes: “Acertamos!”.

A piada é boa e o pato está vivo, mas a satisfação desses caçadores de araque é somente um exemplo do tipo de equívoco que se comete na interpretação de dados. Vamos agora matar um pato direito.

Marcão e Nenê são jogadores de meio-campo. A imprensa futebolística acompanha dez de seus jogos, faz as contas e publica que o Marcão erra em média 8 passes por jogo, enquanto o Nenê erra 15 passes por jogo. A conclusão é que o Nenê passa pior do que o Marcão.

O pato continua vivo. Um jornalista reproduz esses dois números mágicos, incontáveis blogs os copiam-e-colam e a torcida organizada quer a caveira do Nenê. Mas o pato ainda está vivo porque tais números, mesmo que sejam fiéis à verdade, mostram uma análise parcial da realidade. Afinal, alguém poderia dizer quantos passes cada um acertou?

Talvez o Nenê tenha acertado 20 passes em média, enquanto o Marcão acertou apenas três. Agora o pato está ficando chamuscado. O Nenê erra mais porque participa muito mais do jogo, errando passes mas também acertando muitos. Ele acerta 57% dos passes que realiza, enquanto o Marcão acerta 27% dos seus. Quem é melhor passador?

Bom, mas talvez também não seja bem assim. Pode ser que o Marcão acerte os mesmos 20 passes por jogo em média e, nesse caso, sua eficiência seja de 71%, maior do que a do Nenê. “Marcão é mesmo melhor”, conclui o jornalista.

E lá vai o pato grasnando incólume. A pergunta agora é: alguém poderia dizer como foi cada um desses passes?

Um levantamento mais claro talvez mostre que o Marcão dá seus passes para jogadores que estão atrás ou ao lado, enquanto Nenê, mais ousado, tenta mais vezes fazer a bola passar no meio da marcação adversária. Erra vários, como é de se esperar, porém quando acerta cria condições de gol de uma maneira que o Marcão jamais consegue.

É pena de pato para tudo o que é lado!

Isso significa que as tais estatísticas não valem nada? Não. Primeiro que analisar estatísticas sempre permite reflexões como esta, nos dão garfo e faca para devorar a realidade, fornecem palavras e números que nos livram da mística das impressões. E elas continuarão a funcionar por si mesmas, desde que recebam o tratamento adequado.

Por exemplo, um treinador pode considerar que, para um jogador como Marcão, que não cria situações de gol, o índice de passes correto deve ser, digamos, de pelo menos 70%, enquanto o Nenê pode acertar apenas 40% desde que ele crie uma média de três chances de gol por partida — e então uma estatística completará a outra.

Por isso, amigo, fique atento: se um desconhecido lhe oferecer números na rua, nunca aceite!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O acaso determina nossas vidas?

Este livro foi tão badalado por jornais e revistas que chegou a se esgotar na Livraria Cultura e eu precisei esperar 5 dias até a reposição de estoque para poder comprá-lo.

Apesar de estar fazendo tal sucesso, imaginei que o livro pudesse ser realmente bom. Entre créditos e débitos, deixo o saldo no azul. Há passagens incríveis e ideias que todas as pessoas deveriam conhecer e se esforçar para compreender.

A primeira delas é a demonstração de como fazemos julgamentos errados ao ignorarmos dados estatísticos. Com exemplos muito claros retirados dos esportes, das artes, dos negócios, etc., ele prova que, de um modo geral, não podemos analisar o desempenho de um profissional tendo por base somente os resultados que ele obteve num curto espaço de tempo.

Um bom profissional tende a conseguir melhores resultados ao longo do tempo, embora num período curto (um mês ou um ano) possa ter um desempenho ruim, inferior ao de um concorrente não tão bom que tenha tido mais sorte.

A prova da grande dificuldade das pessoas de entenderem probabilidades (e fazerem escolhas melhores) está no relato do famoso problema de Monty Hall. Eu não imaginava que esse paradoxo fosse tão largamente "contestado" por aqueles que não o compreendem bem.

Boa leitura, mas Mlodinow poderia ter diminuído o livro a menos da metade de seu tamanho, mantendo o essencial e talvez estruturando um pouco melhor.