terça-feira, 30 de setembro de 2008

Túnel

Devido aos recentes cortes no orçamento e ao aumento do preço da eletricidade e do petróleo, a luz no fim do túnel teve de ser desligada.
[Anônimo]

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A imaginação voltou


Gosto de fazer prospecção nas livrarias atrás de frases e parágrafos, quem sabe encontro uma novidade de porte.

Folheei Play sem motivo algum: a capa é boa e elegante, mas não especialmente atrativa. E eu não conhecia o autor Ricardo Silvestrin, apesar de orelhas e prefácios afirmarem que ele já era "bem conhecido" por suas poesias e por publicações para o público infantil.

Chegou ao público adulto em boa hora.

Incensar autor recém-lançado é uma jogada de risco, mas tenho aqui pra mim que ganho a aposta. A literatura brasileira estava parada desde os anos 70, quando foram publicados A hora da estrela, Lavoura arcaica e O cobrador.

[Para afirmar isso, fucei neurônios e prateleiras e infelizmente não achei nada. De repente faltou me indicarem alguma coisa, se alguém lembrar por favor me escreva.]

Passados trinta anos, aí está um autor com muitos talentos. Ele tem escrita, imaginação e pulso. Está antenado: como artista sabe que precisa ser profundo, como homem do século XXI sabe que precisa comunicar rápido.

Foi como me laçou na livraria. Em cinco linhas já disse cinqüenta páginas — lança-nos num universo diferente sem explicar nada, a gente que se vire. Olhe este comecinho de conto:

O rei já foi bem claro. Qualquer suspeita de traição será resolvida de uma maneira bem simples. O acusado será jogado aos leões. Dou carne aos leões. Trato-os todos os dias com braços, pernas, cabeças e um pouco de água.
Que rei? Que leões? Quando? Onde? Quem poderia trair? Amigo, estamos em 2008, não dá tempo de ficar falando coisas óbvias... é um rei, ora! Tanto faz de onde, tanto faz quando. Se alguém o trair, será jogado aos leões. É tudo o que você precisa saber para prosseguir na leitura desse conto surpreendente.

Os temas de Silvestrin revelam o autor e, às vezes, revelam também o leitor. Eu não conhecia o Silvestrin, mas o danado me conhecia. Vá ver se ele já não conhece você também.

Não tenham receio, Silvestrin não é bêbado, não é escritor de guardanapo, não é amigo da garotada. É crítico, não revoltado. É inteligente, não esperto. Tem postura, não pose. Tem imaginação, não alucinação. Domina as ferramentas narrativas e idiomáticas, sabendo o momento e o modo de subvertê-las.

Isto não é resenha para contar as coisas que acontecem nas histórias, até porque quase todos os contos são bem curtos e já já este texto fica maior que alguns deles. Somente quero ter o gosto de apontar alguns dos títulos. Em minha leitura, os contos mais expressivos são "Preto no preto", "Leões" e "Play", embora sejam de primeira linha os rápidos "O filme", "Conversação" e "Gaiolas".

Que bom para nós que ele é brasileiro e escreve em português. Que pena para ele.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Weeds — outro nível de TV


Se você detesta TV, não há como condená-lo. A programação sempre fez por merecer esse sentimento.

Somente Groucho Marx considerava a televisão um dos instrumentos mais educativos que existem, pois, sempre que alguém a ligava, ele saía da sala e ia ler um livro em outro lugar.

Sugiro, porém, que você dê uma chance para Weeds. Não existe nada igual na TV.

No começo de setembro, encerrou-se nos EUA a quarta temporada da série. A ótima notícia é que muitos "fãs" estão decepcionados com os rumos que a história tomou este ano.

Isto é uma boa notícia porque é uma conseqüência direta do fato de Weeds ser tão incomum. Os roteiristas, liderados pela criadora Jenji Kohan, não estão nem aí para as "expectativas" do telespectador mediano. Pelo contrário, apostam continuamente na surpresa e na notável verdade por trás de personagens e situações.

Além de entretenimento, vejo Weeds como oportunidade. Explicarei.

É normal e aceitável o relacionamento que as pessoas têm com séries de TV e até mesmo com telenovelas. Ali vemos um mundo mais organizado.

Tomemos como exemplo outro seriado atual de sucesso, House. Não tem a dimensão de Weeds — ali é TV mesmo, muito bem realizada, mas ainda TV. É um entretenimento muito divertido, baseado na personalidade do protagonista (cínico e sarcástico) e no mistério por trás de cada enfermidade misteriosa que precisa ser descoberta para salvar um paciente.

As premissas desse seriado são assumidamente fantasiosas. Não existe um hospital no mundo que receba, regularmente, pacientes com doenças tão raras. Não existe um médico com tanto talento e conhecimento sobre-humanos. Não existe uma instituição que aceite um médico que desobedeça tanto os códigos éticos estabelecidos (mesmo que seja para "salvar vidas").

Mas como seria legal se existisse tudo isso! Então está tudo lá em House. Assistimos porque sabemos que um novo episódio, apesar de ter um conteúdo geral diferente dos anteriores, repetirá a mesma fórmula tão agradável. Não teria o menor sentido se o doutor House fosse demitido ou se aposentasse e virasse um roqueiro.

Não é à toa que isso é explorado ao longo da história: House já foi seriamente ameaçado de demissão, já foi preso, já foi diagnosticado com doença incurável, já foi acometido de problemas sérios que diminuíram sua capacidade de curar... tudo como suspense para "assustar" os fãs com a possibilidade de quebrar esse mundo bonito e estável.

Claro que tudo isso foi sempre reversível. A quinta temporada começou semana passada nos EUA, e lá estava o doutor House no primeiro episódio, resolvendo mais um caso médico espantoso.

Agora voltemos a Weeds. Aqui não há nenhum nível de fantasia. A personagem principal, Nancy Botwin, fica viúva prematuramente e não sabe como ganhar a vida para educar os dois filhos. Por certa circunstância, ela começa a vender maconha.

Em Weeds, não temos o direito de nos afeiçoar pelos personagens e nem pelas situações. Eles aparecem e desaparecem com a mesma dinâmica que ocorre na vida. Um personagem carismático como o vivido por Martin Donovan não será salvo da morte em decorrência de nenhuma pesquisa de mercado. A engraçadíssima personagem Alison fica em cena por quatro episódios na primeira temporada e depois desaparece. Os personagens Conrad e Heylia, absolutamente centrais durante três temporadas, são dispensados sem nenhuma cerimônia na quarta. Muitos "fãs" estão inconformados. Eu mesmo gostava muito deles. Mas e daí?

Esta é a oportunidade em Weeds.

É um ótimo momento de treinarmos, como espectadores de uma série de TV, para sabermos aceitar também a vida como ela é...

Claro que na vida batalhamos e devemos batalhar, mas com certas coisas somente podemos aprender a lidar.

Uma gravidez, uma morte, uma revelação, ou simplesmente a mudança e o crescimento das pessoas à nossa volta, tudo isso são coisas que não podemos, como crianças mimadas, tentar enfrentar apenas dizendo "não deveria ter essa morte", "não deveria ter essa mudança".

O mais criticado "problema" da quarta temporada de Weeds é a mudança de Nancy, que abandonou o incendiado subúrbio de Agrestic e passou a morar em Ren Mar, na fronteira americana com o México.

É uma lamúria de quem quer encarar tudo o que passa na TV como se fosse o House. Mas em House a manutenção do cenário é coerente com a perspectiva fantasiosa de um mundo ideal e bem organizado para nosso deleite, premissa generalizada nos seriados, em que casais brigam de mentirinha durante anos sem nunca se separarem, em que amigos são sempre friends não importa o que aconteça.

Já em Weeds é outra a situação. No início da série, alguém poderia pensar, por exemplo, que Dean e Celia Hodes fariam para sempre o papel de casalzinho hipócrita, que se mantém junto por fachada. Seriam muito divertidos assim — porém irreais. Eles aqui se separam rapidamente e a relação conturbada se dá em especial por causa da filha Isabel...

Aos que são fãs dessa série fantástica, e aos que se tornarão fãs, aproveitem e façam um exercício: assistam sem expectativas, como quem contempla o horizonte. Deliciem-se com esse biscoito fino, que consegue conjugar cenas hilariantes e momentos de tocante sensibilidade.

Você não vai encontrar esse divertido "treinamento para olhar a vida" em nenhum outro lugar da TV!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Não confie em ninguém com menos de 20


Agora que tenho mais de 30 anos, não sou mais digno de confiança para os jovens.

Não tem problema... basta mantê-los longe! Para isso, uso o anti-adolescente-aproximator tabajara!

Sim, parece mais uma gag moderna, porém é a pura realidade. Pessoas com menos de 20 anos ainda não sofreram uma pequena deterioração no aparelho auditivo que torna os adultos surdos para os sons emitidos em determinada freqüência. Então criaram um aparelho que chia irritantemente contra os ouvidinhos inocentes, preservando nossos tímpanos amadurecidos. Use a engenhoca para manter os aborrecentes bem longe de você!

Nos States of America o negócio é vendido pela Kids be Gone. Será que já tem no Mercado Livre???

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O maniqueísmo

Estou começando em 2008 uma jornada contra o maniqueísmo. E continuarei sempre.

O maniqueísmo está para a cultura assim como o aquecimento global está para o meio ambiente. Ou seja, é uma questão urgente e de primeira grandeza.

Um ensaio interessante como este pode ser um bom ponto de partida.

E em breve posto mais sobre o assunto.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Não condene sem saber...

Este seu herói em defesa dos fracos e oprimidos ecoa com alegria mais uma notícia de inocência.

Nada se comprovou contra a mãe que foi acusada de colocar cocaína na mamadeira da filha.

O problema é que ela já pagou pelo que não fez: sofreu agressões na prisão que deixaram seqüelas graves. É a tal "justiça" do povo, fomentada pelo desejo de celebridade de certos delegados e afins, ou pelo desejo de furo de certos jornalistas e quejandos.

Uma notícia completa.