Rotação
Ele espalhou, nas paredes de sua casa, 48 relógios.
Apenas um marca a hora certa. Um está 15 minutos atrasado. Outro, 30. Outro, 45. O último está, por fim, 15 minutos adiantado.
Ele sabe as horas olhando para qualquer um deles. Explica que faz isso para manter desperto o próprio raciocínio analítico.
Há fórmulas que ele emprega para saber as horas, de acordo com a posição do relógio na parede e com a proximidade de outros relógios.
Ele também se sente confortável com a multiplicidade de horários de que dispõe. Ao acordar, pensa que gostaria que fosse a hora tal — então passa a ordenar-se, naquele dia, pelo relógio que está marcando o horário desejado. Podendo mudar de relógio, se isso lhe parecer conveniente, a qualquer hora — de qualquer relógio.
Rapidamente ele se esquece do passado. Do futuro, desdenha. Vive exclusivamente no presente, que ele distendeu como borracha, para sonhar-se imperecível.