domingo, 11 de março de 2012

Sobre “Imortais”

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[Resenha também publicado no Skoob: conheça esse site!]
[Contém spoilers.]

Imortais é um livro que havia comprado num saldão muitos anos atrás, e infelizmente demorou para ser lido. Trata-se de um excelente trabalho de edição de Isaac Asimov, que faz uma introdução ao livro e também a cada conto, com apresentações breves e reveladoras sobre os autores.

"O Homem de Areia", de E. T. A. Hoffman soou-me um tanto romântico em sua sucessão de peripécias, seu recurso epistolar no início, sua explosão de sentimentalismo, etc. Mesmo assim, chama a atenção a inventividade "científica".

Mary Shelley se sai melhor com "O mortal imortal" e seu personagem de 300 anos que tomou a poção de um alquimista e agora gostaria muito de poder morrer (reminiscente de uma brilhante passagem de As viagens de Gulliver).

O de Poe, um tanto rebuscado nas imagens, é pouco interessante e nem tão "científico".

Já o de Hawthorne é excelente no modo como trabalha o ponto de vista e a incrível história da mulher "envenenada", sendo a rivalidade entre os cientistas um perfeito pano de fundo para a história de amor.

"O relógio que andava para trás", de Edward Page Mitchell, não me encantou. Por outro lado, "De encontro ao sol", de Robert Duncan Milne, é muito bom. Não é muito literário, mas é escrito de forma direta e com bastante clareza. A história é instigante e apavorante: um cometa cai no sol, que aumenta muito de calor...

"Uma História de Gravidade Negativa", de Franck Stockton, é bem saboroso. Não entra no menor detalhe técnico sobre como foi criado o aparelho criado o aparelho que permite flutuar, mas tem uma história engenhosa e divertida. Boa qualidade literária.

"Horla", de Maupassant, que eu já havia lido numa antologia aqui registrada. Como na resenha eu havia escrito que "valia reler", reli. E valeu! Paranoia ou sobrenatural???

"As Formas", muito interessante conto de Rosny, aîné. Passa-se na época do nomadismo e supõe uma estranha raça de silício que ocupa um espaço cada vez maior na Terra e dizima os seres humanos - e como eles foram enfrentados.

Edward Bellamy fala de uma ilha perdida em que se desenvolveram humanos ledores de pensamento em "A quem isto possa chegar". Uma bela reflexão sobre ética e relacionamentos.

Conan Doyle faz uma história um tanto farsesca em "A grande experiência de Keinplatz".

"No abismo", conto de Wells, eu já havia lido anteriormente. Fala sobre exploração submarina e a descoberta de criaturas estranhas que vivem no fundo do mar. Muito bom.

"A catástrofe do Vale do Tâmisa", de Grant Allen, parece um precursor dos "filmes de desastre": Londres é destruída por uma grande erupção de fenda. Bom conto. "O lagarto", de Cutcliffe Hyne, é interessante. Não gostei muito de "Mil mortes", de Jack London. O tema é bom, mas parece escrito de forma amadora.

Excelente leitura para quem gosta de ficção científica, pois verá histórias que foram o ponto de partida do gênero, com variadas abordagens ao conceito. Difícil escolher um como "melhor" do livro, mas, dentre os 15 contos, destaco: "A filha de Rappaccini" (Nathaniel Hawthorne), "De encontro ao sol" (Robert Milne), "Horla" (Maupassant) e "A quem isto possa chegar" (Edward Bellamy).