segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tempo e memória


Quando pequeno, surpreendiam-me os relatos de pais e tios mais velhos sobre um mundo sem televisão e produtos industrializados. Era na minha percepção um mundo em sépia, lento, esquisito e profundamente remoto: “trinta anos atrás” tinha uma semelhança curiosa com “há um milhão de anos”.

Hoje a molecada não entende o que é um vinil e imagina nossa irrestrita infelicidade por termos crescido sem celular e internet. Mas não é o que sentimos. Nossa adolescência também era movimentada e intrigante, vivíamos no tempo mais moderno que já havia existido.

O engraçado de nossas lembranças é que elas não são desbotadas ou em preto e branco como as fotografias que guardamos das mesmas épocas. Podem ser confusas, curtas, quase esquecidas, mas mesmo aquela única imagem distante ainda preservada na memória nós a enxergamos com o mesmo brilho que os fatos presentes nos dão neste exato segundo.

Assim, temos certeza de que “há trinta anos” faz só um instante. Aquela bolinha de gude que acertei com força no grandão malvado da minha rua voou agora há pouco, eu já era formado, casado e órfão de pai.

Envelhecemos por acúmulo de experiência e tudo aquilo que vivemos se sedimenta no Homem, que em seu presente constante tenta, com todo o otimismo necessário para a existência, agregar à sua vida também aquela carga de sonhos, imagens do futuro que ele tem a expectativa de fazer entrar para seu depósito de recordações.

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