terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A invenção de Morel

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O curto romance A invenção de Morel, lançado por Adolfo Bioy Casares em 1940, pode ser lido em cerca de duas horas. Eu não me levantei até completá-lo.

O início é misterioso e, em pequena medida, perturbador, mas aos poucos nossa imaginação começa a focar apropriadamente naqueles eventos e na mentalidade do narrador e logo já podemos enxergar esse protagonista e acompanhá-lo em suas andanças pela ilha isolada aonde foi se esconder da polícia.

Concordo com Carpeaux — autor de artigo que ilustra esta nova edição como posfácio — que enquadrar o romance como “ficção científica” pode confundir sua apreciação. Apesar de inspirado em A ilha do Dr. Moreau, de H.G. Wells (que não li), Morel apresenta-se como uma obra mais complexa, em que o elemento científico é subjacente, enquanto o mistério, as peripécias e até seus aspectos psicológicos são pluralmente ressaltados.

A prosa de Casares tenta ser clara com suas frases curtas, mas persistentemente evitando a sensação de obviedade. Essa preocupação não o poupa de certas paragrafações truncadas e da marcante semelhança com o estilo do conterrâneo e amigo Jorge Luis Borges.

Borges assina o prefácio original, também presente nesta edição da Cosac&Naify. Nele, afirma que “discutiu os pormenores” com o autor e a considera “perfeita”. Com sua erudição virtualmente infinita, Borges ainda assim sempre cultivou os superlativos. Mas estaria errado em sua avaliação? Eu tenho desistido dessa espécie de veleidade. A perfeição talvez só exista na cabeça de um lunático como Morel.

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