O realce
O perigo começava. O pai estava no fundo da casa, talvez pitando cachimbo ou ainda com sono leve, e os malucos entravam pela frente, para trazer alegria aos irmãos. O novo ardia de expectativa, o mais velho coordenava a chegada das drogas com confiança e se sentindo muito preparado para o prazer.
Cada visitante tirou do bolso uma pedra brilhante, moderadamente quadrada, e a rolavam entre os dedos mostrando a beleza dos farelos que iam se descascando. O menino pensava se aquilo era de comer, de cheirar, de injetar, mas seu irmão tomou uma pedra nas mãos e começou a antegozar a alegria pelo tato.
Em instantes os irmãos já choravam, a vida terrível iria embora, a felicidade invadiria seus poros em farelos cheios de luz.
Os malucos partiram nas motocicletas, o garoto trancou o portão e voltou para a sala — a cabeça agora menos encantada. Tirou da mão do irmão a pedra que ele namorava na poltrona, e o pai apareceu, distraído.
Para choque de seu irmão, o menino ofereceu a pedra ao pai, dizendo “Coma”. O pai mordeu a paçoca e mastigou metade. Era bom, era doce, e o pai aprovou, querendo que comprassem mais desses.
1 comentários :
"moderadamente quadrada" é simplesmente genial.
Alex!
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