domingo, 17 de março de 2013

Biologia — e Ética

istoebiologia

Valeu a pena ter perseverado na leitura de Isto é Biologia, de Ernst Mayr. Os dois últimos capítulos são sensacionais em suas considerações sobre a Moral e o papel do Homem na Evolução. Recomendo fortemente a qualquer pessoa que leia esses dois capítulos.

O autor tinha mais de 90 anos quando, em 1997, publicou esta obra. Ele tem um estilo antigo, acadêmico demais, uma escrita em geral bastante carregada, cheias de “ismos” e sufixos afins. Assim, embora pareça em princípio um título voltado mais para a divulgação científica, a leitura de grande parte do texto será mais bem absorvida e aproveitada por um iniciado da área.

Porém, mesmo com uma leitura que foi se diagonalizando cada vez mais com o passar das páginas, sempre era possível marcar interessantes ensinamentos.

Questiono sua posição de conflito em relação à filosofia da ciência. Certamente era um homem prático, mas é preciso lembrar que sempre que alguém reflete sobre o que faz, está fazendo filosofia. Portanto, um cientista que pensa estar criticando a “filosofia da ciência” está, na verdade, desenvolvendo sua própria filosofia da ciência.

É incrível como, nos dois últimos capítulos, ele faz uma fundamentação da humanização e da Ética a partir do darwinismo. Fiz uma releitura, e recomendo que seja lido e debatido pelas pessoas.

Como serviço, e para encerrar, transcrevo aqui uma passagem que mostra como a situação é séria e delicada. É preciso coragem para escrever o que ele escreveu, porque pode levar a mal-entendidos entre os ouvidos cada vez mais melindrados da nossa sociedade. Entretanto é um alerta importante (dentre outros no livro) para nós que tanto desejamos um renascimento da ética.

O segundo grande problema ético do nosso tempo é o egocentrismo excessivo e a atenção excessiva aos direitos do indivíduo."Expandir o círculo" na nossa sociedade resultou em uma luta legítima por igualdade, especialmente por parte de minorias e de mulheres, mas também teve efeitos colaterais indesejáveis. Martin Luther King Jr. talvez tenha sido o único guerreiro da liberdade a lembrar seus seguidores de que todos os direitos devem vir acompanhados de obrigações.

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